9.1.16

Epifania errada


            Quinta-feira Thomas volta pra casa, Curitiba gelada no mês de julho, ele se sente sujo, são as caixas, Tom é Mc, é fã de punk rock e Fausto Fawcett, mas curte mesmo é cantar funk no underground, o problema é que o underground não quer ouvi-lo, então ele teve que pegar um subemprego no almoxarifado lá no Rebouças, ele mora na Travessa Presidente Faria, diz que é o ápice da cultura underground morar ali, principalmente pela vista, entre a estação Central e o Passeio Público.
            Thomas Gonçalves está cansado, não quer ler Cacaso nem Chacal, hoje não vai pros bares no São Francisco, nem vai beber o tannat uruguaio da promoção, só vai sentar em seu sofá rasgado e fumar um baseado ouvindo o escândalo vocalizado lá na rua, nem quer saber se é puta ou mãe de família, ta cansado, tão cansado que é incapaz de pôr um disco. Comer um pão francês com vina o fará sobreviver; e quanta infiltração – ele pensou -, mas ninguém o vizita muito sóbrio mesmo.
            Parece que as putas ou mães de família se calaram, parece que os chineses do apartamento ao lado se calaram, ele está chapado, parece que os carros pararam de passar, ele está cansado, cedo demais, ele queria comer bacon todos os dias, mas come vina, é mais barato e rende mais, o corredor é silencioso demais, muito silencio dói o ouvido, seu cérebro, ele gosta do silencio, mas este está demais, quantos mais não são, mas ele não quer dormir e um susto só em sua mente, um barulho em seu ouvido, alguém em suas costas, parece que deus resolveu aparecer, mas que deus meu deus?! Aquele de Abraão, Isaque e Jacó!? Mas ele não crê, prefere que seja de Jah sei lá, e que não o torture, é só pelas questões geográficas e poéticas de Jah. O que o impede de prosseguir é o imediatismo, oh deus, finalmente (só para inteirar o leitor, Thomas nasceu em família Metodista, mas se decepcionou com John Wesley e ficou só com o rock inglês mesmo), então deus diz que ele deve obedecer o chamado e se ligar institucionalmente a ele. Pronto! Não podia ser deus mesmo, maldito capeta!
            Sexta-feira, Tom não quis acordar cedo, nunca havia faltado em um ano de trabalho para finalmente aproveitar este dia, quando fosse necessário, uma sexta-feira pós-teofânica, nublada e concreta, deus já não existe, nem o pobre diabo, talvez uma semana criando histórias sob efeito da cannabis o leve a um terminal de ônibus que o indique a direção, mesmo que seja em direção ao improviso, agora Thomas Gonçalves é um sedutor, chamado Claudio, casado com a Beatriz da música do Chico Buarque e ele vai conquistar meninas adolescentes, mulheres com 20 anos de casamento perfeito e animais com seu sensor suprassensível, ele vai conquistar o mundo, mas só agora, até dormir.

Diego Marcell

25/7/2014 

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