17.9.15

Guia de sobrevivência política para o individuo brasileiro


            Já há algum tempo tenho descoberto um conceito estético de formas de relacionamento com o mundo, envolvendo espaços e contextos que me proporcionam exercitar outros “eu’s”; tomo como parte nesta semana uma maneira de me libertar dos males do mundo sem deixar minhas características, ou seja, sem ser um bundão que ama a vida e a acha linda, apesar de amar viver, mais nos domínios de Eros, e isto não quer dizer que eu abdique dos julgamentos em nome da beleza, portanto, a vida como algo maior que viver, neste caso o mais preciso conceito é o de sobreviver.
            Cada vez mais ciente e, portanto, cansado deste país de espírito de esquerda morna, fazendo até meu sangue europeu[1] se corroer de baixo da pseudo intelectualidade dos jovens “pensadores” franceses ou outros, matando, quem sabe, meu sonho mediterrâneo ou simplesmente do velho mundo, passo a crer cada vez mais no sucesso do sucesso da América (vulgo) o sonho, os Estados Unidos, lá onde o mercado funciona e até o pobre pode viver e não apenas sobreviver, como a dita classe média ao sul do equador.
            Devo concentrar-me num parecer libertador, que é: por que tais regras, normas, tradições deste mundo imposto, seja do império, seja da dita intelectualidade da esquerda, estes domínios não me parecem fazer sentido nem no pré-guerra, apesar de ter respeitado até aqui as opções, mas hoje só me surge um conceito, o foda-se, que quer dizer mais ou menos o seguinte: devo estudar, me divertir e deixar o resto, pois as pessoas são burras![2] Ater-me a toda gente do passado é uma questão de norma a revolução, pelo menos por enquanto, mas me preocupar com os discursos do mundo, hoje, principalmente no Brasil, não mais, ficar jogando no lamaçal... é só uma questão de autoadaptação, o monge pós-moderno que fez do coletivo lotado seu local de treino, exercitando-se com tal desenvoltura, apesar de toda dificuldade, o ter outrem diante de si, nas condições que se apresentam, principalmente na universidade, oh!, quantos obstáculos, mas enfim, que passem, a vida não faz sentido algum, se eu morro amanhã com tais problemas é só problema meu, e madre Tereza coitada, quanta beleza que só pode rimar com seu nome, mas jamais salvar alguém, nem a si própria.
            Esta forma filosofal me manterá nos campos da arte e da linguagem somente como necessidades do uso publico da razão, vence quem tem melhores argumentos ou melhor estilo, eu priorizo o segundo, e que de preferência anulem as notas de rodapé quando eu chegar a tal nível de evolução[3] que tal ato seja uma pasta tão mista e informe que penetre até naqueles que sentem dificuldade de interpretação, que são a maioria. Ah! O povo brasileiro, já dizia nosso antropólogo mais ilustre e demente, mal sabe ele sobre nossa capacidade, mentira, é claro que sabia, aqui todos são como ele, tendenciosos, macunaímicos, meio índios ladrões de espelhos, meio portugueses ladrões de ouro, cada um escondendo o roubo do outro por uma vaga de cacique no palácio, ou ministro na tribo, sabendo que se pode apodrecer com outros 30 num cubículo por falta de pagamento da pensão ou por uns quilos de erva, mas jamais por corrupção ou por destruir lojas e símbolos do capitalismo, estes irão para casa antes do segundo mês ou até do segundo dia, e serão heróis nacionais, heróis morais de um povo que sempre gritou “justiça”, mas que sua justiça não tem necessariamente o mesmo significado que nos outros lugares, e só hoje é que fomos descobrir isso, que tem a ver também com relação, e nossa relação social sempre foi outra, sempre foi a da falsa euforia, onde o roubo é superior ao mérito.
            Assim, quem sabe, isto era um tipo de manual de sobrevivência num mundo politicamente corrompido onde os jogos mentais é que importam, e neste caso a corrupção é entificada na tradição, por isso renego toda noção de identificação com qualquer posição, pois aproximação, semelhança e conchavo irão contra minha noção de indivíduo e, portanto de vivente; assim, não abdicarei da autonomia que possibilita uma leitura independente e especial do mundo em nome da loucura que é a defesa de ideal posto por qualquer entidade de representação e, portanto, de poder, que possa vir a substituir o indivíduo. Porém, se assim querem prosseguir nossos jovens brasileiros, meus pêsames, mas o Brasil continua a mostrar que segue corrompido pela alma, do Monte Caburaí ao Chuí.

Diego Marcell
9/8/14 – 17/9/15




[1] Aqui no sentido de um sentimento estético ligado à objetos históricos de identificação, não necessariamente sobre descendência.
[2] Depois da “revolução dos idiotas” qualquer um pode, seguindo certos preceitos, chegar a mesma conclusão que Nelson Rodrigues chegou, sem necessariamente dar satisfação a um inconsciente coletivo ou uma Intelligentsia.

[3] Vê-se que no momento ainda parece impossível, visto as notas de rodapé. 

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