O ser humano se autoenreda
por uma necessidade que possui de ter. Ter para o ser humano é imaginar-se como
Ser. Mas nisto criou-se a grande prisão. Uma das decorrências é a geração de
Abismo, morte para o individuo. Culpamos nossos mitos, mas estes são nosso
reflexo para validar nossa razão de assim proceder.
O
ocidente, antro de prepotentes, deixa claro quando se revela Platão o principal
discípulo de Sócrates, talvez não seja, com certeza não é, provavelmente seja o
pior e por isso tal fama o acarreta. O melhor discípulo do mestre jamais
conheceremos, é anônimo. Não é Paulo de Tarso, mas talvez seja Maria Madalena. O
melhor mestre é o que não deixa discípulos na terra, mas o que muda o
pensamento.
A
sociedade é toda composta do discipulado deficiente da realidade.
Existem somente dois pobres seres
amaldiçoados neste mundo, que não tem o direito de seguir esse eterno chamado e
ser, crescer, viver e morrer como lhes ordena seu “propósito próprio” inato. Apenas
o homem e o animal por ele domesticado são condenados a não obedecer à voz da
vida e do crescimento, mas sim às leis que foram criadas pelos homens e que, de
tempos em tempos, são novamente transgredidas e modificadas pelo próprio homem.
E a coisa mais estranha é que os poucos que desobedeceram de modo consciente a
essas leis para seguirem suas próprias leis naturais são, na verdade,
condenados e apedrejados em sua maioria, mas depois passam a ser venerados para
todo o sempre como heróis e libertadores.[1]
Evidente
que os seguidores de Jesus de hoje não o aceitariam se o conhecessem
pessoalmente e assim com tantos outros. Alguns nascem póstumos, Nietzsche se autossentenciava.
Mas assim eu não desejo, pois é uma espécie de vida alheia, vida no sentido de
vivacidade, alegria e não esta sobrevivência proporcionada ao artista, como
cantada Lobão[2] no
melancólico samba:
Aurora, ninguém mais chora por
mim, mas chorar por mim é coisa do futuro, eu juro, que ao orvalho cair vou
lembrar daquele meu pressentimento de outrora e agora, nesse momento o meu
tamborim silenciou, uma lagrima triste se petrificou dentro do peito de alguém que
jamais chorou.
Aquele
que tendo consciência do seu mito ainda assim se agarra a ele, ou em nome do
comodismo ou do medo, este vai se ver no espelho com o ódio que poderá ser
canalizado ao primeiro desavisado que cruzar o seu caminho ou na melhor das hipóteses
ao seu próprio reflexo. Porém a grande maioria ou prefere amar o mito ou então fingir
que ele não existe (por isso os complexos na psicanálise), mas mais por deficiência
natural que por escolha, afinal a autonomia continua sendo um conceito de difícil
exploração. Quanto a ter, é mais um jogo de amarras e redes, é a forma de se segurar
sentindo-se livre, mas voo livre é coisa rara na vida, mesmo porque ele pode beirar
a loucura. Ainda em relação a ter: é como o fraco mascara a ausência do ser,
praticamente como cercar a favela da Rocinha com a muralha da China. Por isso
encontrar seu líder é tão fundamental para quem deseja ter, pois é preciso ter
escola, mesmo que seja para rechaçá-la em seguida, até porque é campo certo
negar o mestre, pois tem publico pra tudo. Mas o detalhe que mais me chama
atenção, é que de inicio é preciso copiar fielmente cada movimento daquele que
se tem como exemplo, assim como todos os pastores da Igreja Universal imitam a
mãozinha defeituosa do Edir Macedo; o pior se dá quando nunca se abandona tais hábitos,
pois estes mostram-se sem possibilidade alguma de salvação perante a vida, não há
personalidade!
Diego Marcell
31/01/2013 – 06/04/2015
Referencias
HESSE, Hermann. O caderno de Sinclair. Rio de Janeiro: Record.
LOBAO; TOGNOLLI. 50 anos a mil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
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