Nosso
mundo urbano, elétrico, tomado de signos e motivos forjados nos permite
recorrer às futilidades, ao Belo, ao consumo de arte e seus gêneros mais
atrativos nos muitos subgrupos sociais que se formam, a demanda a principio é
espiritual quando as buscas de cultura perpassam não só, neste caso, a grande
mídia, mas as buscas especificas no Google, no Youtube e similares, isto revela
necessidades essenciais do ser humano, não atentarei aos problemas Freudianos,
mas neste momento, tão somente com os objetos culturais, os fenômenos propriamente
ditos.
Essa
necessidade de linguagem além da de comunicação objetiva, mas aquela que recorre
à forma, as abstrações sempre em busca de um ponto extático onde a mente de
nossa espécie possa habitar eternamente, permitir diante das burocracias de uma
pólis, criar universidades, que
segundo e seguindo as mudanças e aglomerações sociais também se alteraram muito
desde a Academia de Platão, hoje segundo normas já arcaicas da modernidade
temos nossas faculdades de artes, que nos cursos de licenciatura cumprem a
necessidade dos currículos escolares, mas nos cursos de bacharelado se não destinado
a poucos afortunados que poderão se dedicar pelo luxo, para onde estaremos
enviando os artistas? À nossa sociedade que tanto necessita da arte, como já abordei
até aqui? Bom, pelo menos era a isso que em tese se imaginava, mas infelizmente
iremos esbarrar em um problema que afetará direta e profundamente esta máquina,
um país como o nosso sofre de uma eterna crise onde o funcionamento deficiente
desde o inicio nos relegou um capitalismo precário, como escreveu Oswald de
Andrade num texto chamado “O sentido do interior”:
O homem inapto para trabalhar mas
precisando trabalhar tropeça no caminho em que se empregou sem ter vocação, em
que se comprometeu sem compromisso intimo. É o médico que detesta os seus
agonizantes, o advogado que executa por detrás os seus próprios clientes, o
engenheiro que se associa ao fornecedor para lucrar. Num mundo que perdeu suas
coordenadas morais, isto é visível a olho nu. (...)
Mas que se deve fazer então? Abandonar
o trabalho humano porque as suas fontes estão envenenadas? Nunca! Bastaria organizar
uma sociedade onde cada um pudesse seguir a sua própria vocação, onde cada um
tivesse a liberdade de se orientar, se educar e escolher. O trabalho assim
exercido deixaria de ser uma condenação e um cansaço. Para que cada um se encontrasse
no dever e se sentisse feliz cumprindo a tarefa social que elegeu. Nas sociedades
algemadas isso é impossível porque não há saúde para todos, quanto mais
educação para todos. O que há é fome e desgraça para a maioria. (ANDRADE. 1992, p. 194-195)
Ou seja, por maior e mais potente que
seja este espírito da arte no ser humano, com fome e desgraça este jamais
poderá consumir suas próprias produções e desejos, interrompendo assim a
autogestão desta parte fundamental da biodiversidade sociocultural causando uma
cadeia que só pode puxar para baixo e desencadear a depressão do sistema, com
isto o Estado recorre a saídas emergentes para “salvar” aos olhos de todos o
que sequer foi percebido pela massa, esta falta de percepção já é decorrência desta
queda gerada pela cadeia negativa, estas “salvações” emergenciais não passam de
mentira para a área, já que as leis de incentivo a cultura com suas formas de patrocínio
acabam privilegiando artistas consagrados, reduzindo assim a cultura nacional a
poucos nomes, se ao menos a lei fosse usada como lançamento de artistas inéditos,
deixando àqueles que já passaram por isso a disposição popular do
reconhecimento obtido a partir deste momento, mas não, ou as grandes empresas
destinam seu imposto de renda em nomes que lhes darão retorno publicitário, ou
o artista que se submete a editais menores precisa além de dedicar seu tempo a
produção intelectual, precisa também de conhecimento técnico e burocrático mais
próximo ao Direito, Administração, Contabilidade e Economia do que das áreas artísticas;
forçando a maioria dos artistas a contratarem um especialista para criar seus
projetos, o custo elevadíssimo cobrado para isto coloca em jogo novamente a
cadeia negativa, já que o artista por não ter publico, consequentemente não tem
dinheiro, desta forma não pode pagar para alguém fazer seu projeto, sem projeto
sem lei, sem lei sem visibilidade, no ostracismo não existe produção artística,
o que nos leva a um artista sem público e sem dinheiro fechando o ciclo de
nulidade da área artística já que a sociedade a que pertence tal artista passa
fome e vive na desgraça, inclusive o artista.
Nota:
ANDRADE, Oswald de. Estética e política. São Paulo: Globo, 1992.
Diego Marcell
26-04-14
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