27.3.14

A racionalidade e suas contradições ou Os seres adaptáveis ou Utopia nunca mais


Outra questão importante na discussão de Orwell está intimamente relacionada ao “duplipensamento”, a saber, que em uma manipulação bem-sucedida da mente, a pessoa não mais está dizendo o oposto do que pensa, mas pensa o oposto do que é verdadeiro. Assim, por exemplo, se ela desiste completamente de sua independência e de sua integridade, se passa a ver-se como algo pertencente ao Estado, ao Partido ou à corporação, então dois e dois são cinco, ou “Escravidão é liberdade”, e ela se sente livre porque não tem mais consciência da discrepância entre verdade e falsidade. Isso se aplica especificamente às ideologias. Assim como os inquisidores que torturavam seus prisioneiros acreditavam agir em nome do amor cristão, o Partido “rejeita e avilta cada um dos princípios originalmente defendidos pelo movimento socialista, e trata de fazê-lo em nome mesmo do socialismo”. Seu conteúdo é invertido para o oposto, e ainda assim as pessoas acreditam que a ideologia significa o que diz. (Erich Fromm)[1]

            Apaziguado o desespero ocidental pós-guerra, não podemos agora tornar às utopias renascentistas e iluministas como parece se formar, principalmente fazendo esta analise no Brasil, se este país tem sério déficit de experiências político/históricas, além dos longos períodos que passamos sob certas mentalidades, a nossa, como povo, parece ainda ser tomada de certa nostalgia da fantasia quanto àquilo que puderam ter vivido nossos antepassados colonizadores, mas nós como Novo Mundo jamais experimentamos; o que, porém, ocorrido a nossa vizinhança não se lança como exemplo claro, mas como sonho cego, os regimes venezuelanos e cubanos nos são distintos dos exemplos soviéticos e chineses ou de outras nações menores no continente africano, talvez devido nossa criação sob signos de relativização e delírio de poder e subjugação do próximo, que busca fabricar escravos, muitas vezes invertendo as velhas questões como vingança implícita em “acertos tácitos” da sociedade brasileira.
            A grandeza almejada e comum, o pular etapas, o jeitinho brasileiro, o cargo ganho, o diploma sem estudo, o discurso sem conteúdo, a palavra sem etimologia, tudo isso tornado lei nesta nação, são as incongruências que a regem; o ativismo homossexual que tem como ídolo o assassino de homossexuais como Che Guevara, ou mesmo essas minorias que se agarram nos deuses que buscavam às destruir, como feministas, e movimentos “raciais”, todos erguendo altares à Marx, ou por ignorância absurda ou por falta de caráter descarado na imposição de seus interesses.
            Pensar no absurdo que é o ser humano, ter dentro de sua cabeça maquinações criativas, formulações imaginarias que o fazem crer serem reais, e sendo uma espécie que põe tudo a perder e a ganhar num gesto ambíguo; a bomba, não deixa de ser uma evolução e ao mesmo tempo é o gesto mais grotesco da existência, do real objetivo, a oportunidade de findar a própria espécie, pois aqui a realidade objetiva se formula como a realidade particular da mente e põe em risco o real através da imaginação, portanto a racionalidade aparece no mundo como o grande paradoxo, a consciência é a que cria o absurdo e os últimos tornam-se realmente os primeiros.
            Por isso o século XXI já está mais do que necessitando de outra forma de pensamento social, não mais utópico, nem messiânico, nem de esperanças ou normas relativas, mas de indiferença e consciência do estado de coisas que esta espécie proporciona e é capaz, mas também não se deve anular a evolução, que é obvio, já não se trata de guerras, mas de biotransmutações, talvez!?

Nota:
ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

Diego Marcell
22-02-14



[1] Posfácio 1984, p. 376-378.

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