Outra questão importante na discussão
de Orwell está intimamente relacionada ao “duplipensamento”, a saber, que em
uma manipulação bem-sucedida da mente, a pessoa não mais está dizendo o oposto
do que pensa, mas pensa o oposto do que é verdadeiro. Assim, por exemplo, se
ela desiste completamente de sua independência e de sua integridade, se passa a
ver-se como algo pertencente ao Estado, ao Partido ou à corporação, então dois
e dois são cinco, ou “Escravidão é liberdade”, e ela se sente livre porque não tem
mais consciência da discrepância entre verdade e falsidade. Isso se aplica
especificamente às ideologias. Assim como os inquisidores que torturavam seus
prisioneiros acreditavam agir em nome do amor cristão, o Partido “rejeita e
avilta cada um dos princípios originalmente defendidos pelo movimento
socialista, e trata de fazê-lo em nome mesmo do socialismo”. Seu conteúdo é
invertido para o oposto, e ainda assim as pessoas acreditam que a ideologia
significa o que diz. (Erich Fromm)[1]
Apaziguado
o desespero ocidental pós-guerra, não podemos agora tornar às utopias
renascentistas e iluministas como parece se formar, principalmente fazendo esta
analise no Brasil, se este país tem sério déficit de experiências político/históricas,
além dos longos períodos que passamos sob certas mentalidades, a nossa, como
povo, parece ainda ser tomada de certa nostalgia da fantasia quanto àquilo que
puderam ter vivido nossos antepassados colonizadores, mas nós como Novo Mundo
jamais experimentamos; o que, porém, ocorrido a nossa vizinhança não se lança
como exemplo claro, mas como sonho cego, os regimes venezuelanos e cubanos nos são
distintos dos exemplos soviéticos e chineses ou de outras nações menores no
continente africano, talvez devido nossa criação sob signos de relativização e delírio
de poder e subjugação do próximo, que busca fabricar escravos, muitas vezes
invertendo as velhas questões como vingança implícita em “acertos tácitos” da
sociedade brasileira.
A
grandeza almejada e comum, o pular etapas, o jeitinho brasileiro, o cargo
ganho, o diploma sem estudo, o discurso sem conteúdo, a palavra sem etimologia,
tudo isso tornado lei nesta nação, são as incongruências que a regem; o
ativismo homossexual que tem como ídolo o assassino de homossexuais como Che
Guevara, ou mesmo essas minorias que se agarram nos deuses que buscavam às
destruir, como feministas, e movimentos “raciais”, todos erguendo altares à
Marx, ou por ignorância absurda ou por falta de caráter descarado na imposição
de seus interesses.
Pensar
no absurdo que é o ser humano, ter dentro de sua cabeça maquinações criativas,
formulações imaginarias que o fazem crer serem reais, e sendo uma espécie que põe
tudo a perder e a ganhar num gesto ambíguo; a bomba, não deixa de ser uma
evolução e ao mesmo tempo é o gesto mais grotesco da existência, do real
objetivo, a oportunidade de findar a própria espécie, pois aqui a realidade
objetiva se formula como a realidade particular da mente e põe em risco o real através
da imaginação, portanto a racionalidade aparece no mundo como o grande paradoxo,
a consciência é a que cria o absurdo e os últimos tornam-se realmente os
primeiros.
Por
isso o século XXI já está mais do que necessitando de outra forma de pensamento
social, não mais utópico, nem messiânico, nem de esperanças ou normas
relativas, mas de indiferença e consciência do estado de coisas que esta espécie
proporciona e é capaz, mas também não se deve anular a evolução, que é obvio,
já não se trata de guerras, mas de biotransmutações, talvez!?
Nota:
ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Diego Marcell
22-02-14
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