1.1.14

Sobre escolhas acadêmicas


            Meu desejo antigo de ter uma formação teológica sem pertencer oficialmente a uma doutrina religiosa tinha um pouco a ver sobre a exteriorização de uma fé possível fora de contexto, além do conhecimento, é claro, já que em termos teológicos todos são especialistas também, não é mesmo? Todos leram seu livrinho favorito sobre o assunto. Hoje só consigo crer em arqueólogos, a teologia já não consegue servir para nada.
            Resolvi fazer uma licenciatura para tentar prolongar minha vida, só espero não morrer de fome antes de me formar. Quanto a escolha do curso, artes visuais, é fácil explicar: todos diziam para eu fazer a faculdade de cinema, já que havia feito um curso rápido e produzo algumas coisas em audiovisual, mas descartar esta possibilidade é como tirar doce de criança, porém vamos dar um parecer. Cinema parece ter se tornado o curso da moda, a oito anos quando fui buscar saber sobre o assunto, era algo escondido, inédito, coisa de pop star, hoje não passa de um subemprego no mercado de trabalho, como me considero um artista e não um operário, deixo isto de lado logo de cara.
            Me falaram para fazer letras, pensei no assunto, havia cogitado a muitos anos esta ideia, mas nem sou grande fã de literatura e de regras, algo que o curso exige e com razão, então como me considero um artista das ideias e não um mestre das palavras ou algo que beire a exigência das gramáticas, também recuso esta via.
            E a filosofia? A filosofia acadêmica me dá nojo, me da vontade de chorar, quantos milhares de filosofinhos estão aí masturbando Platão pelas salas? Suas notas de rodapé e seus especialistas, até reconheço os grandes méritos do curso, mas ante a possibilidade de me estranhar com o tema, prefiro buscar direto da fonte, que é o que eles deixaram, antes que houvesse essa universidade burocrática e tendenciosa de hoje.
            Ao escolher o curso de Artes Visuais, além da licenciatura que é a grande sacada, foi por que a arte é a que se aproxima mais da banalidade e da falta de sentido que é a vida, se valorizam a arte a ponto de criarem cursos em universidades, isto prova o quanto a vida é um tédio, como afirma Cioran, então é a arte que vou recorrer, e a arte como conceito, que chega a ser mais absurdo ainda.
            Ser artista é fazer da distração coberta de blush o seu ganha pão. Claro que vou encontrar muita babaquice e até possíveis professores que se levam a sério, mas pra mim só importa o fim, porque o meio é sempre o mesmo: o individuo e o que ele pode produzir com a relevância da futilidade ou com o lixo moralista que há nele como potência, espero que o estudo me aproxime do primeiro e me distancie do segundo, pois para aqueles que fazem o caminho contrario, só lhes é destinado a perdição eterna.

Diego Marcell

07-11-13

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