Meu
desejo antigo de ter uma formação teológica sem pertencer oficialmente a uma
doutrina religiosa tinha um pouco a ver sobre a exteriorização de uma fé possível
fora de contexto, além do conhecimento, é claro, já que em termos teológicos todos
são especialistas também, não é mesmo? Todos leram seu livrinho favorito sobre
o assunto. Hoje só consigo crer em arqueólogos, a teologia já não consegue
servir para nada.
Resolvi
fazer uma licenciatura para tentar prolongar minha vida, só espero não morrer
de fome antes de me formar. Quanto a escolha do curso, artes visuais, é fácil explicar:
todos diziam para eu fazer a faculdade de cinema, já que havia feito um curso rápido
e produzo algumas coisas em audiovisual, mas descartar esta possibilidade é
como tirar doce de criança, porém vamos dar um parecer. Cinema parece ter se
tornado o curso da moda, a oito anos quando fui buscar saber sobre o assunto,
era algo escondido, inédito, coisa de pop star, hoje não passa de um subemprego
no mercado de trabalho, como me considero um artista e não um operário, deixo
isto de lado logo de cara.
Me falaram para
fazer letras, pensei no assunto, havia cogitado a muitos anos esta ideia, mas
nem sou grande fã de literatura e de regras, algo que o curso exige e com
razão, então como me considero um artista das ideias e não um mestre das
palavras ou algo que beire a exigência das gramáticas, também recuso esta via.
E
a filosofia? A filosofia acadêmica me dá nojo, me da vontade de chorar, quantos
milhares de filosofinhos estão aí masturbando Platão pelas salas? Suas notas de
rodapé e seus especialistas, até reconheço os grandes méritos do curso, mas
ante a possibilidade de me estranhar com o tema, prefiro buscar direto da
fonte, que é o que eles deixaram, antes que houvesse essa universidade
burocrática e tendenciosa de hoje.
Ao
escolher o curso de Artes Visuais, além da licenciatura que é a grande sacada,
foi por que a arte é a que se aproxima mais da banalidade e da falta de sentido
que é a vida, se valorizam a arte a ponto de criarem cursos em universidades,
isto prova o quanto a vida é um tédio, como afirma Cioran, então é a arte que
vou recorrer, e a arte como conceito, que chega a ser mais absurdo ainda.
Ser
artista é fazer da distração coberta de blush o seu ganha pão. Claro que vou
encontrar muita babaquice e até possíveis professores que se levam a sério, mas
pra mim só importa o fim, porque o meio é sempre o mesmo: o individuo e o que
ele pode produzir com a relevância da futilidade ou com o lixo moralista que há
nele como potência, espero que o estudo me aproxime do primeiro e me distancie
do segundo, pois para aqueles que fazem o caminho contrario, só lhes é
destinado a perdição eterna.
Diego Marcell
07-11-13
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