A pichação faz parte da cultura urbana,
desde que há concreto que este é a verdadeira poluição, a tinta na parede é
adorno. Estética urbana e pós-moderna, grande hipocrisia que quer definir o
caráter de beleza de uma construção, sua cor, suas cortinas como faz o conselho
do condomínio, sendo assim, a pichação é a nossa salvaguarda do acaso da
liberdade visual, mesmo eu, que não exerço a pichação, tenho no caos de
informação inútil o sentido máximo da arte que é a contemplação destituída de
vontade, coisa que não acontece aos pichadores, pois para eles há uma questão
política territorial, mas sendo eles minoria, a sociedade desfruta de um
complexo que envolve pintura, literatura e arquitetura na funcionalidade da
cidade.
O muro, criado para separar os
mundos, criado para dar nome e propriedade, se permite ser pichado, pois tem
contato direto com o ato do transeunte interferindo-o, assim mesmo o alto de um
prédio fica a mercê da intervenção da “gang” por estabelecer não limites
verticais, mas horizontais, já que aquele que compra um terreno não o compra
com noções amplas no ar, mas sua planta baixa. Claro que estes limites éticos
são transgredidos, porque aquele que exerce a pichação não se coloca como um
colaborador, mas como um marginal, sendo assim, qualquer coisa no centro se
torna idêntica, o morador de aluguel e o dono do prédio são exatamente a mesma
coisa, não importando que um receba R$700,00 enquanto o outro é dono de
milhões, importa é a briga que se faz com tinta, sendo assim no rules, crime por crime, não há
pequeno ou grande, mas fica evidente a total discrepância na generalização por
parte das autoridades, que quais são? Não sei.
O que predomina para o caos são os
signos de sentido restrito aos realizadores, mas na identificação da cultura
urbana ele faz todo o sentido pelo todo, pelo conjunto, pelas referencias que
foram se criando desde o cinema, NY, skate, rock, juventude, hip-hop, moda,
poesia concreta, para então acontecer a contemplação pura no simples fato de
estar na rua pelo ente social, se por necessidade de passar ou por passeio
descompromissado, já está intrincado no ser urbano como inconsciente de uma
vida construída entre os signos tanto universais quanto restritos mas que
acabam neste inconsciente coletivo da cidade se tornando também universais na
representatividade do caos visual que já não há como arrancar, mesmo com a
campanha política, que tem desde muito, seu trabalho desvirtuado do propósito
ideal, se for direcionado a criminalização dos antiartistas que são na verdade
duelistas de micropolíticas que decorrem da condição social do país (pelo menos
falando do Brasil) a loucura tomaria conta do sentido que há no papel da
autoridade, sendo que todos os dias somos assaltados e mortos; exercer a caça
aos ninjas do subúrbio que trabalham com as espadas de spray é a evidente troca
de valores, já que há inimigos maiores, os “mocinhos” arranjam outros inimigos
para vender ao publico, evidentemente inofensivos e parte do mesmo publico, com
o intuito de subverter os seus deveres como órgão publico.
Se for arrancado de nós esta parte
que já estava aqui antes mesmo de nascermos, se fará um oco subjetivo no ente
social, principalmente jovem (de mente) que poderá ser revertido de forma muito
maior do que já foi em degradações catárticas em por exemplo, ônibus, que tem a
cada dia aumentado o valor das suas passagens. Com salário parco, tendo gasto
excessivo com transporte, o que resta ao povo é a revolta inconsciente, como
num dia de fúria, o individuo sobrecarregado precisa deixar na matéria que
compõe a metrópole a marca da destruição que está sendo feita na sua alma. Mas
creio que é praticamente impossível termos uma cidade sem as marcas na sua
pele, como bonecas Barbie da arquitetura e urbanismo, pois a vida não é de
plástico como quer vender a política partidária; de concreto sim, mas concreto
que pulsa pelo movimento e pelas causas da natureza, a transformação que se dá
em diferentes Eras, se dá a cada segundo, em espaço e tempo, assim a cidade
também se forma, por seus cidadãos e suas interferências que são resultados,
que são causas, mas também são geradores de infinitos outros signos nas
chamadas tribos urbanas, nos indivíduos e no inconsciente coletivo.
Diego
Marcell
27-03-13
muito interessante suas colocações... em suma criar uma lei que criminalize este ato envolve não apenas as gangs, que provavelmente ainda conseguirão marcar as casas que desejem, mas cerceia a liberdade do artista-marginal de, com seus recursos, exprimir-se; sem contar na diferença de tempo que leva pra um pichador fazer uma marca em contraponto a um grafiteiro fazer sua arte.
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