19.9.12

A ligação da essência linguística na obra de João Manuel Simões

João Manuel Simões, escritor português de Mortágua, assume como ninguém a frase de Fernando Pessoa “minha pátria é minha língua”, toda sua obra é um retrato disso, dessa identificação que a língua tem, da comunicação que ela é, da cultura que ela traz, da beleza que ela pode expressar. João que mora no Brasil a um bom tempo, mais precisamente em Curitiba, é ocupante da cadeira 11 da Academia Paranaense de Letras.

            Com mais de sessenta livros publicados e grande aclamação poética, podemos considerá-lo um grande pensador da nossa língua, com seus ensaios, reflexões e estudos linguísticos. Seu estilo de citações que utiliza os autores em sua língua original, talvez seja a forma de respeitá-los, de manter intacto, fiel aquilo que disseram; além dessa grande carga de referências, Simões sempre cita sua santíssima trindade da nossa língua: Camões, Fernando Pessoa e Drummond.

            Todo este grande conhecimento multicultural lhe faz humilde e sábio ao afirmar que não é difícil saber falar várias línguas, mas saber bem a sua língua de origem, isto sim é um trabalho sem fim. Esta riquíssima fonte de comunicação lusitana nos permite percorrer por espaços só nossos, por divagações múltiplas por suas causas particulares de expressão que são típicas dos povos que a utilizam.

            Fazemos parte da grande cúpula latina, mas é necessário ver que a língua portuguesa também possui em sua origem aproximadamente 30% de grego e cerca de 7% de anglo-saxão o que nos faz dialogar indiretamente com culturas antigas e nos encaminha às novas culturas com ares globalizados quando agregamos a todo momento em nossos dicionários novos termos e quando termos que são típicos da nossa realidade se universalizam e tomam forma nas outras culturas. A língua portuguesa é a sexta mais falada no mundo, ficando atrás apenas do chinês, hindu, inglês, espanhol e russo, e ficando a frente de outras tão importantes como francês, italiano, alemão, polonês, húngaro, holandês, sueco e romeno, além de outras tantas milhares (João Manuel Simões in Imprensa escritos esparsos). Sua grande reivindicação é por conta da falta de valorização por parte dos que nasceram com este belo idioma, que não se esmeram pela usabilidade nobre e pelo estudo da mesma. No Brasil, pelo menos, temos um péssimo costume de achar que o linguajar populista tem peso de cultura sobre a norma, sobre isso Barbosa Lima havia dito que toda unidade cultural dentro de um mesmo país se extinguiria “no dia em que se quebrasse a disciplina da língua escrita e da língua literária.”

            E a principal ligação que podemos tirar é a da essência humana dos signos da comunicação que nos distingui do resto da natureza e que não podemos esquecer, a educação acima de tudo, desta forma podemos encerrar com a frase do escritor italiano Carlo Dossi: “Dizem que o que distingue o homem dos brutos é a palavra, quando é justamente pela palavra que a maior parte das vezes nos mostramos brutos.”

Diego Marcell

Publicado no Literatura Brasileira

Carta de João Manuel Simões a Diego Marcell

Prezado Amigo e Confrade
Diego Marcell
Saudações “ab imo pectore”
Muito obrigado pelos seus cultos e inteligentes comentários dirigidos sobre a minha obra literária, em prosa e verso.
Apenas me permita retificar a afirmação que fiz na pagina 21 do meu livro IMPRENSA (1987), onde afirmava que o Russo a quinta língua do mundo. Não é: a quinta posição pertence à nossa “última flor do Lácio, culta e bela”. Na época em que fiz a afirmação, existia ainda a União Soviética constituída por uma serie de nações – mas nem todas, evidentemente, falavam – e falam – russo. Os duzentos e trinta milhões que se expressam hoje no idioma de Camões e Castro Alves, Pessoa e Drummond, Saramago e Ariano, superam largamente a população da Federação Russa atual.
Aliás, no meu Livro mais Recente, “Prismas e Perspectivas”, já na Dedicatória inaugural, pág. 5, eu deixo bem claro que a nossa língua admirável, é a quinta do mundo – e a terceira do ocidente. (1)
Outra coisa: não tenho computador e, portanto, não frequento a INTERNET, nem mesmo possuo celular.
Sou, como vê, um animal antitecnológico. E às vezes eu me pergunto se o adjetivo não é supérfluo...
Parabéns pelo seu excelente Ensaio sobre o Cristianismo Brasileiro e, de modo especial, pela forma brilhante com que você usa o vernáculo.
Confesso que discordo de algumas das suas ideias, embora a discordância não afete a sua genialidade intrínseca.
É perfeitamente possível admirar a excelência de uma ideia, mesmo que ela não corresponda ao nosso pensamento.
Abracíssimos de

Simões

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