João
Manuel Simões, escritor português de Mortágua, assume como ninguém a frase de
Fernando Pessoa “minha pátria é minha língua”, toda sua obra é um retrato
disso, dessa identificação que a língua tem, da comunicação que ela é, da
cultura que ela traz, da beleza que ela pode expressar. João que mora no Brasil
a um bom tempo, mais precisamente em Curitiba, é ocupante da cadeira 11 da
Academia Paranaense de Letras.
Com mais de sessenta livros publicados e grande aclamação
poética, podemos considerá-lo um grande pensador da nossa língua, com seus
ensaios, reflexões e estudos linguísticos. Seu estilo de citações que utiliza
os autores em sua língua original, talvez seja a forma de respeitá-los, de
manter intacto, fiel aquilo que disseram; além dessa grande carga de
referências, Simões sempre cita sua santíssima trindade da nossa língua:
Camões, Fernando Pessoa e Drummond.
Todo este grande conhecimento multicultural lhe faz
humilde e sábio ao afirmar que não é difícil saber falar várias línguas, mas
saber bem a sua língua de origem, isto sim é um trabalho sem fim. Esta
riquíssima fonte de comunicação lusitana nos permite percorrer por espaços só
nossos, por divagações múltiplas por suas causas particulares de expressão que
são típicas dos povos que a utilizam.
Fazemos parte da grande cúpula latina, mas é necessário
ver que a língua portuguesa também possui em sua origem aproximadamente 30% de
grego e cerca de 7% de anglo-saxão o que nos faz dialogar indiretamente com
culturas antigas e nos encaminha às novas culturas com ares globalizados quando
agregamos a todo momento em nossos dicionários novos termos e quando termos que
são típicos da nossa realidade se universalizam e tomam forma nas outras
culturas. A língua portuguesa é a sexta mais falada no mundo, ficando atrás
apenas do chinês, hindu, inglês, espanhol e russo, e ficando a frente de outras
tão importantes como francês, italiano, alemão, polonês, húngaro, holandês,
sueco e romeno, além de outras tantas milhares (João Manuel Simões in Imprensa
escritos esparsos). Sua grande reivindicação é por conta da falta de
valorização por parte dos que nasceram com este belo idioma, que não se esmeram
pela usabilidade nobre e pelo estudo da mesma. No Brasil, pelo menos, temos um
péssimo costume de achar que o linguajar populista tem peso de cultura sobre a
norma, sobre isso Barbosa Lima havia dito que toda unidade cultural dentro de
um mesmo país se extinguiria “no dia em que se quebrasse a disciplina da língua
escrita e da língua literária.”
E a principal ligação que podemos tirar é a da essência
humana dos signos da comunicação que nos distingui do resto da natureza e que
não podemos esquecer, a educação acima de tudo, desta forma podemos encerrar
com a frase do escritor italiano Carlo Dossi: “Dizem que o que distingue o
homem dos brutos é a palavra, quando é justamente pela palavra que a maior
parte das vezes nos mostramos brutos.”
Diego Marcell
Carta
de João Manuel Simões a Diego Marcell
Prezado Amigo e
Confrade
Diego Marcell
Saudações “ab imo
pectore”
Muito obrigado pelos
seus cultos e inteligentes comentários dirigidos sobre a minha obra literária,
em prosa e verso.
Apenas me permita
retificar a afirmação que fiz na pagina 21 do meu livro IMPRENSA (1987), onde
afirmava que o Russo a quinta língua do mundo. Não é: a quinta posição
pertence à nossa “última flor do Lácio, culta e bela”. Na época em que fiz
a afirmação, existia ainda a União Soviética constituída por uma serie de nações
– mas nem todas, evidentemente, falavam – e falam – russo. Os duzentos e trinta
milhões que se expressam hoje no idioma de Camões e Castro Alves, Pessoa e
Drummond, Saramago e Ariano, superam largamente a população da Federação Russa
atual.
Aliás, no meu Livro
mais Recente, “Prismas e Perspectivas”, já na Dedicatória inaugural, pág.
5, eu deixo bem claro que a nossa língua admirável, é a quinta do
mundo – e a terceira do ocidente. (1)
Outra coisa: não tenho
computador e, portanto, não frequento a INTERNET, nem mesmo possuo celular.
Sou, como vê, um animal
antitecnológico. E às vezes eu me pergunto se o adjetivo não é supérfluo...
Parabéns pelo
seu excelente Ensaio sobre o Cristianismo Brasileiro e, de modo especial, pela
forma brilhante com que você usa o vernáculo.
Confesso que discordo
de algumas das suas ideias, embora a discordância não afete a sua genialidade intrínseca.
É perfeitamente possível
admirar a excelência de uma ideia, mesmo que ela não corresponda ao nosso
pensamento.
Abracíssimos de
Simões
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