5.8.18

            Fico pensando quanta coisa de errado a gente faz na vida até encontrar algum grau de autonomia. Por mau direcionamento paterno e da sociedade; quantos encontros prejudiciais temos que suportar até aprendermos a escolher as pessoas boas pra nós. Quanto disso demora pra limparmos do nosso corpo até não nos prejudicarem mais. O quanto andamos pra trás e para os lados pelas más companhias. Pelos falsos enredos da sensibilidade infante no ser. O quanto disso nos prende e nos força um sofrimento desnecessário, simplesmente porque acreditamos e assim depositamos nossa parte nas relações.
            E depois o quanto sua autonomia fere uma sociedade doente a ponto dos mais próximos que a natureza te causou te serem ainda as maiores barreiras para uma mente que só almeja a liberdade para se encontrar e assim encontrar algum deus de verdade. Vejo assim o sentido da frase de Cioran quando diz que “nossos íntimos são os piores inimigos de nossa estátua”, pois há o contato tácito da natureza que os faz imaginar certos poderes sobre este outro que quer ser ele mesmo desprendido dos valores da tradição, e se “homem algum chegou a ser completamente ele mesmo, mas todos aspiram a sê-lo” (Hesse), “alguém só é ele mesmo a partir do momento em que o é entre os outros” (Kundera) e que exercício de existência para chegar a este momento maravilhoso que aparenta loucura para a sociedade doente, por isso tantos quando idosos são chamados incompetentes para esta sociedade, já que “apenas com a idade o homem pode ignorar a opinião do rebanho, a opinião do público e do futuro” (Kundera), o paroxismo da vida que esvai tira o peso dessas idiotices humanas, mantidas por poder, vaidade, honra? O mesmo Kundera diz que “a honra é nada mais que a fome da sua vaidade. A honra é uma ilusão de espelhos, a honra não passa de um espetáculo para este público insignificante que amanhã não estará mais aqui!”
            Com isso só penso que toda nossa loucura do despojamento dos valores é a prova que a real loucura está na manutenção dos mesmos. A burocrática loucura de pertencer a uma forma dada por um poder antigo que sobrepujou ideologicamente uns idiotas para que se mantivesse eterna.

Diego Marcell

03/07/18

Nenhum comentário:

Postar um comentário