Fico pensando quanta coisa de errado
a gente faz na vida até encontrar algum grau de autonomia. Por mau
direcionamento paterno e da sociedade; quantos encontros prejudiciais temos que
suportar até aprendermos a escolher as pessoas boas pra nós. Quanto disso
demora pra limparmos do nosso corpo até não nos prejudicarem mais. O quanto
andamos pra trás e para os lados pelas más companhias. Pelos falsos enredos da
sensibilidade infante no ser. O quanto disso nos prende e nos força um
sofrimento desnecessário, simplesmente porque acreditamos e assim depositamos
nossa parte nas relações.
E depois o quanto sua autonomia fere
uma sociedade doente a ponto dos mais próximos que a natureza te causou te
serem ainda as maiores barreiras para uma mente que só almeja a liberdade para
se encontrar e assim encontrar algum deus de verdade. Vejo assim o sentido da
frase de Cioran quando diz que “nossos íntimos são os piores inimigos de nossa
estátua”, pois há o contato tácito da natureza que os faz imaginar certos
poderes sobre este outro que quer ser ele mesmo desprendido dos valores da
tradição, e se “homem algum chegou a ser completamente ele mesmo, mas todos
aspiram a sê-lo” (Hesse), “alguém só é ele mesmo a partir do momento em que o é
entre os outros” (Kundera) e que exercício de existência para chegar a este
momento maravilhoso que aparenta loucura para a sociedade doente, por isso
tantos quando idosos são chamados incompetentes para esta sociedade, já que “apenas
com a idade o homem pode ignorar a opinião do rebanho, a opinião do público e
do futuro” (Kundera), o paroxismo da vida que esvai tira o peso dessas
idiotices humanas, mantidas por poder, vaidade, honra? O mesmo Kundera diz que “a
honra é nada mais que a fome da sua vaidade. A honra é uma ilusão de espelhos,
a honra não passa de um espetáculo para este público insignificante que amanhã não
estará mais aqui!”
Com isso só penso que toda nossa
loucura do despojamento dos valores é a prova que a real loucura está na
manutenção dos mesmos. A burocrática loucura de pertencer a uma forma dada por
um poder antigo que sobrepujou ideologicamente uns idiotas para que se
mantivesse eterna.
Diego
Marcell
03/07/18
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