Enquanto alguns tentam justificar o
problema do sujeito e do objeto em estruturas como foto e vídeo referente à
performance como havendo separação de corpos, quando eu afirmei anteriormente não
haver qualquer separação desde que a câmera seja corpo/ator junto com os outros
possíveis. Sendo justamente na fotoperformance e na videoperformance as únicas em
que sujeito e objeto não carecem na efemeridade assim como não necessitam gerar
inevitavelmente – como ocorre na performance – outro objeto deslocado do
sujeito como explicita Kátia Canton[1] ao se
referir à Yves Klein, pois fica evidente que se as telas pintadas pelos corpos
das modelos do artista no ato performático seguirem uma carreira sem
autorreferência ao fenômeno efêmero, que elas passam a ser um objeto sem
sujeito. Da mesma forma que ocorre com qualquer performance sustentada
visualmente para além do efêmero por vídeo e/ou fotografia mas em que estes nada
fizeram como atores no fenômeno além de serem registros, valendo como tal, não da
para afirmar da inexistência da performance se não houvessem tais suportes, da
mesma forma que o registro textual ou verbal desde que haja público, com a
vantagem do enriquecimento visual do ocorrido, ao qual acessamos partes, mas não
temos como acessar o sujeito, porque ele segue fixado ao tempo. Enquanto nas
fotoperformances e videoperformances o tempo é nos dado como devir pela própria
matéria fenomênica que é ator/criador do ato e canal de público. Por exemplo,
pode se questionar se a série de filmes Fall
de Bas Jan Ader é apenas registro, visto que a câmera segue estática, mas não
é isso que faz a câmera ser ator ou não, mas justamente o fato de que o que
ocorre só ocorre para uma determinada opção de enquadramento e tempo que
revelam, portanto o que se designa a obra em si, ou seja, é fato que antes de
ele cair ele deve ter subido, mas a subida não fazia parte da performance,
assim como o destino do artista após o acontecimento, cabendo ao fenômeno artístico
unicamente o que se tem registrado na película, neste caso, pois não havendo público (salvo ocasional) é este
ator/câmera o suporte do fenômeno no tempo, pois somente o ato sem público e
sem registro não se sustentaria apenas pela oralidade. Surgindo outra questão a
partir daqui, se ela se sustentaria sem público in loco e sem a câmera/performer
somente pela câmera registro? É difícil, pois quem garantiria a credibilidade
do fenômeno? No caso do artista holandês está claro qual é o ato performático,
a queda, porém ela sofre as interferências para as nuances estéticas da mesma
forma que um ato in loco pode ter com a incidência de neblina no momento do mesmo.
O fato de um ser gerado pela natureza e outro pela tecnologia (no caso
específico de uma película de filme 16mm preto e branco, por exemplo) não altera
o conceito, apesar de uma ser mais facilmente dominada que outra. Os recursos
interferem sim na natureza do fenômeno, da mesma forma que um fenômeno natural
interfere na natureza do fenômeno performático, mas ambos – repito - não
interferem nas suas estruturas conceituais.
Diego Marcell
14/08/2017
/videoperformance
[1] CANTON,
Katia. Corpo, Identidade e Erotismo. São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. p. 24.
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