9.11.16

Hoje não gritarei fora Temer fora Dilma fora Trump fora Collor



Enquanto agora o show de horror da nossa gente, seja lá do entretenimento rei, seja aqui do terceiro-mundo plebe, nossa gente deseducada, nossa gente sabichão, que agora em análises do mais alto calibre infantil, pseudointelectuais da sociedade da informação, dos sites especializados e dos especializados em ideologizar, todos novos cientistas políticos, antropólogos e sociólogos da liberdade de opinar sem compromisso com a reflexão, eis terra de novos reis, terra de novos líderes, falemos apenas do que importa ao indivíduo em sua nova caverna de cabos azuis, em suas ilhas de invisíveis pelo céu de satélites e vírus mutante, falemos apenas da arte que recria a natureza e se distância do animal pela beleza da ideia, que nada mais é que captação. Hoje não gritarei fora Temer, fora Dilma, fora Trump, fora Collor, hoje não gritarei nada que não seja fantasia viva no espírito, que não seja pele com pele, prazer por prazer, não direi que deves ou que algo é saudável. Não comerei por necessidade, mas por regozijo em saber. Cansei de vocês meus iguais, sou mundo em expansão, diferente de meus sábios professores que são fósseis, e como tais não podemos tocá-los a não ser com penas. Fujo das salvações assim como fujo dos santos padres, dos pais árvores, das mães tradição, fujo dos bons e dos maus porque tenho preguiça de derrotar seres tão frágeis nas esquinas que são antro de corrupção física e sublevação espiritual. Ai que estar preparado para os arcaicos pensadores contemporâneos, aos viventes do carnê e aos viventes universitários com analfabetismo funcional. Almas com talento para lavagem, suínos agentes de cosmo sufocantemente clean. Mascarados pro carnaval esqueceram o samba na última gaveta, junto com os comprimidos químicos. Amanhã aos deuses que estamos gestando pertence. A roda gira, a mecânica simples é jogada no mesmo saco da mecânica complexa e a democracia diz que quem pegar vai ter seu amigo secreto declarado, delação premiada de natal, nascimento de um deus ocidental que virou adorno comercial, pra um Vaticano que é eco perdido entre a bunda da Kim Kardashian e a transmissão ao vivo da cabeça decapitada no deserto. Mas o pior de tudo acaba sendo a piada. O mau do mundo é um termo resignificado. Um sistema técnico, o modo construído do sonho antigo. Eis meus amigos salvadores/corruptos ou conservadores de hipocrisia, meus amigos do bem ou do mal, tanto faz, desde que reproduzam a baixeza das suas grandes sacadas como se fosse alpiste no velho duelo Papa-Léguas e Coiote. Desde que sirvam aos produtos abundantes do capitalismo proporcionados pelas compras desnecessárias que os pobres fazem apenas porque o PT os possibilitou. Compre carros, mesmo que façamos campanhas para andar de bicicleta. Compre sua casa, sua vida na puta que o pariu, mas proibamos que ocupem os prédios abandonados nos centros das cidades. E mesmo assim choremos a falta de produtos nas prateleiras do Maduro, porque insuflamos de mágica a realidade e agora o Mr. M precisa contar o segredo. Quero que foda-se tudo isso. Meu compromisso é com os ancestrais anônimos e solitários, com os astros sem registro, portanto sem nomes em línguas putrefatas. Vocês querem filhos, creme de aveia Davene e um domingo para honrar; eu quero que a mão ciborgue me masturbe dando prazer à cérebros reais em streaming underground. Só é underground porque os espíritos livres foram sufocados por tantos sindicatos. Todos que usam uniformes, todos que possuem brasão, todos que tomam partido, continuem a alimentar vossas misérias com esses paliativos que vos inocentam diante do tribunal. Continuem a pregar sonhos deprimentes em outdoor interativo. Para convencer seus psiquiatras que vocês são tão saudáveis quanto eles não precisa muito, pois eles são como vocês, com conexões tão limitadas que poderíamos chamar essa profissão científica de 56k.. Abram a porta da esperança como quem abre a porta dos desesperados e julgue cada insulto como se fosse remédio e julgue os abraços como se fossem insultos, pois o são como cuspidas moralizantes. Enquanto meu copo permanecerá meio cheio de saliva, com tanta energia concentrada que os físicos poderão criar a máquina de tesão aos subúrbios espaciais. Esperando investidores pós-humanos destinados aos valores de desinteresse. Niilismo não é mais passividade à doxa do terror de poder vertical, mas uma escultura no centro do museu do Louvre com uma cópia fiel no New Museum em Nova York. Em breve leremos as teses sociais (do papa Marx não do baba Marx) como líamos Homero ou Dante, sem, porém o brilho elevado das artes do homem erudito (que é metafísica antes da extemporaneidade). Aliás, mal sabem meus amigos, separar erudição pós-moderna da dita tradicional, assim como o uso recorrente do kitsch por ramificações p2p. Enfim, morte ao mito dualista dos salvadores, aprendam, virtual é nossa extensão, não há classe, não há burguesia, Napoleão morreu porque já não existe hospício. Agora Napoleão tem laudo. Vistam seus trapos para enganar os deuses na hora de atravessar o buraco. Mas saibam meus amigos, eles os julgarão tão somente por uma coisa, o estilo, só isso importa à coisa em si. E estilo não se compra, nem se socializa, é preciso pari-lo como se as dores do parto fossem o expurgo da miséria original.

Diego Marcell
09/11/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário